domingo, 20 de março de 2011

O muro de arrimo da discórdia

Quem acompanha as notícias, em Itajubá, entende o motivo do título deste texto. Em mês de aniversário de uma cidade, é comum que as prefeituras divulguem a programação de comemoração. Em Itajubá, entre a programação dos 192 anos da cidade, constou a inauguração de um muro de arrimo numa escola municipal.
Não é preciso ser muito inteligente para saber que, obviamente, a Prefeitura deu, de mão beijada, para os críticos mais ferinos, um prato cheio. Inauguração de muro de arrimo? kkkkkkkk, zombavam os tais.
Venhamos e convenhamos, quando a gente faz uma reforma na casa, constrói uma piscina, um jardim interno, a gente até pode fazer uma festa de inauguração, chamar os amigos mais chegados e brindar aquela conquista. Mas, desconheço que alguém chame os amigos pra brindar o desentupimento do esgoto, a limpeza da caixa de gordura ou a troca de azulejos quebrados.
Por outro lado, acho importante sim a construção de um muro de arrimo numa escola. Especialmente nesta, onde havia risco para a criançada. Apesar da gravidade da situação, era uma reivindicação antiga, agora satisfeita pela administração. Ainda outro lado: a Prefeitura é obrigada por lei a dar publicidade a tudo o que realiza, com o quê e quanto gasta. Portanto, precisa divulgar sim que construiu o tal muro e quanto custou isso.
Só acho que a Prefeitura poderia ter se poupado das línguas contrárias, não tratando deste muro como algo a se inaugurar com festa. Melhor teria sido se se divulgasse, de forma impressa, um balanço dessas obras de manutenção, com seus custos e benefícios, mas que não se soltasse rojão por elas.



MUSEU WENCESLAU BRAS


Como parte da programação do aniversário de Itajubá, o melhor momento foi o da entrega do Museu Wenceslau Bras, em estação ferroviária restaurada. Festança em frente ao museu, com direito a longos discursos, hinos e banda, a devolução daquele belo prédio é, sim, motivo para festa. Iniciativa da administração anterior, que deu o start no processo, a restauração, levada adiante pela atual, devolveu à cidade um lugar charmoso, que estava se deteriorando aos olhos de todos, penalizados.
Enquanto agonizava, a estação ferroviária servia de palco para a miséria humana dar seu espetáculo. Bêbados, mendigos, sujinhos, faziam de tudo ali, ao alcance fácil fácil dos olhos e narizes de todos nós. Uma ferida aberta, que sangrava todo dia na nossa cara, de um mundo de desiguldades no qual nos esbarramos em muitas esquinas.
Durante a inauguração, assisti ao desabafo de uma das mulheres que viveu ali, na plataforma da estação, por cinco ou dez anos, segundo sua mente bêbada e imprecisa. "Aqui era a minha casa, naquele canto ali era o bosteiro e agora, ninguém quer saber em que ponte que nóis tá", gritava ela, tentando ser ouvida em meio a multidão, encantada. Voz rouca, não adiantou tentar ser ouvida.
Memória restaurada, muro de arrimo nas rodinhas de conversa, necessidades satisfeitas em bloquetes, asfaltos, praça novinha.... É isso! 


segunda-feira, 14 de março de 2011

Anonimato na rede

Os textos que coloco aqui recebem comentários não aqui, mas no meu facebook. Interessante isso. É uma rede mesmo, em que os vários ambientes estão ligados. Twitter, Facebook, o caduco orkut, blogs de toda espécie e por aí afora. Uma rede que, infelizmente, é muito usada pelos anônimos. Não adianta. Não consigo me convencer de que o anonimato mereça consideração e respeito. Pessoas que reclamam, gritam, criticam, ironizam, zombam, reivindicam... que força podem ter se não tem sequer a coragem de assumirem quem são? Não tem nome nem rosto. É cômodo se esconder atrás de um nome falso, de uma identidade fantasma. E acho, inclusive, que quem não mostra a cara é conivente com as coisas 'erradas' que tanto critica.
Dar a cara pra bater, manifestar ideias e opiniões em público ou, simplesmente, realizar ou participar de algo (e levar porrada ou elogio por isso) como faz o Zezinho Riera, em seu movimentado blog. Isso sim é difícil. Esse é corajoso. Tem opinião, doa a quem doer. Concordemos ou não com ele - eu, na maioria das vezes, discordo - está se expondo, se sujeitando ao desgaste todo que as pessoas que têm opinião sofrem.
Estou certa de que as pessoas entendem que não me refiro aqui ao conteúdo das falas anônimas. Isso é outra história, com quilômetros de distância desta. Falo sobre a atitude do anonimato. Sou e serei radicalmente contra qualquer tentativa de se proibir o anonimato na rede, mesmo que isso seja possível. Não acho que seja caso para ser resolvido por lei, mas é caso de reflexão individual, da pessoa pensar se mais ajuda ou atrapalha não participando de verdade, mas olhando e gritando por detrás da cortina.

Professor Renato Nunes, reitor da Unifei, leitor assíduo de blogs como este, dialoga 'tecla a tecla' de forma transparente. Admiro.

sábado, 12 de março de 2011

4 estações

Estou à frente do computador escolhendo um assunto pra rabiscar aqui. Geralmente, nas minhas matérias jornalísticas, começava mesmo pelo título. Pode parecer óbvio, mas não é regra geral. Muita gente escreve o texto todo e, só depois, dá o título. Eu nunca funcionei assim. Quando dava o título, é porque já tinha a matéria toda na cabeça. Sabia como começar, meiar e finalizar o texto.
Hoje, não foi diferente: queria pensar em algo sobre o quê escrever. Repensei o dia de hoje, que teve um pouco de tudo: alegria e dor, medo e coragem, otimismo e o contrário, frio e calor. Dei o título já sabendo que a sensação das 4 estações foi a que tive hoje.
Hoje, 4 estações passaram por mim. Tudo ao mesmo tempo agora. Não quero escrever sobre nenhuma delas especificamente, porque, depois de um ciclo completo num dia só, faltam-me forças.
Neste momento, estou em pleno outono: minhas folhas caem sem dó. Espero acordar amanhã com o céu azul do inverno que tanto me traz alegria. Chuvas vão voltar, tenho certeza, mas por hoje chega. Estou outonando. E nada mais quero.

terça-feira, 8 de março de 2011

Pra Chico Buarque (No dia Internacional das Mulheres, para quem melhor sabe traduzir a alma e os desejos femininos)


Se eu fosse escrever, pareceria tolice.
Elogio, lugar comum.
Se tentasse explicar, seria estúpida.
Ofereço-lhe meu silêncio.
Eu, que te ouço, e nem quase respiro!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Vida desregrada no Carnaval

Ai como é bom tirar licença das regras e lançar-se ao desgoverno, de vez em quando. Foi o que aconteceu neste carnaval. Casa cheia de sobrinhos já adultos, com quem se pode trocar ideias, bater papo de gente grande, dormir até a hora que se quer, ir pra cama quase que na hora do sol raiar. Fazer a comida na hora que o estômago grita, deixar para pôr o lixo pra fora só depois, arrumar as camas pra quê, já que, logo logo, a gente vai deitar de novo.
E, em plena segunda-feira, poder ficar horas em frente ao computador pescando raridades no You Tube e compartilhando no Facebook. O mundo está dentro de casa. A chuva ajuda.
Mas desgoverno dura pouco. Quarta-feira está aí e a roda começa a rodar de novo.

sábado, 5 de março de 2011

Rastaquera

Ah, que pena. Usei a palavra rastaquera no texto abaixo, porque achava que ela queria dizer chinfrin. Descobri que não é. Rastaquera é o indivíduo que ostenta luxo, exageradamente, coisa típica de novo-rico. Chico Buarque usou a palavra lindamente na música da foto que não era para capa. Ele dizia: o larápio rastaquera....
Não vou retirar a palavra do texto. No meu texto, ela terá o significado que eu pensei pra ela. Com licença.
É só.

Um sonho possível de Carnaval, em Itajubá


A batucada do samba toca fundo em mim. O toque dos tambores parece que vibra na mesma frequência do meu coração. Romântico, não? Mas é serio. Na hora que passa a bateria, pode ser do bloco mais rastaquera do mundo, fico extasiada.
E como estamos em época de batucada, em pleno Carnaval, fico pensando cá com meus botões como é que uma cidade como Itajubá poderia aproveitar o Carnaval. Aproveitar o ano inteiro e não só nos dias da festa. Aproveitar como educação, como fonte de renda, oferta de lazer, organização social. O Carnaval é uma escola. Uma escola de samba e vida.
É possível para Itajubá ter um espaço - nos moldes de um galpão - com oficinas de costura, design de fantasia e alegoria, composição de letra e música, ritmo, dança, percussão .... e tudo mais que o universo do Carnaval invoca. Isso tudo rolando durante todo o ano. Todos trabalhando sob encomenda para escolas da cidade e de fora dela. Tendo lucro e, ao mesmo tempo, aprendendo, desenvolvendo novidades, criatividade. Oficinas gratuitas para a molecada aprender a tocar tambor, sambar e aproveitar o bom da vida.
Para animar, o espaço teria roda de samba todo fim de semana, com renda revertida para o projeto. Temos público certo para os bares de Itajubá e aproveitaríamos essa plateia para curtir o samba e tomar sua cerveja nessa Casa de Samba ou Casa do Carnaval ou algo que o valha.
Os grupos já organizados poderiam explorar o espaço - a cada fim de semana uma turma - para que a renda seja revertida para a escola brilhar no fim do ano.
Tudo isso com um bom marketing, vendendo a tecnologia do Carnaval para todo o Estado e também para o País.
Quando fevereiro chegasse, a cidade toda estaria pronta, viva, mais rica e feliz. E as cabrochas pendurariam a saia no amanhacer da quarta-feira.  

quarta-feira, 2 de março de 2011

A Prefeitura pode construir um cinema?

Não, não pode. Isso porque não tem recursos para isso. São tantas as necessidades de Saúde, Obras, Assistência Social, enfim, que as prefeituras, de um modo geral, não conseguem construir teatros, centros culturais... Cinema, então, eu nunca ouvi falar de algum que seja público. Pode ter algum impedimento legal também. Não acredito que tenha.
Mas, como disse na rádio hoje, o que as prefeituras não conseguem executar - seja por questões financeiras ou legais ou até de finalidade mesmo - elas podem sugerir que outros façam. A meu ver, a Prefeitura tem um papel de articulador de outras forças, de colocar numa mesma mesa outros atores para conversar e, assim, ver acontecer o que ela própria não pode realizar.
Se o interesse coletivo é que está na pauta do dia, a Prefeitura pode sim usar de sua rede de relacionamentos, para atrair as 'coisas' para a cidade. Assim como faz para atrair empresas, que dão emprego para os habitantes, a Prefeitura pode atrair grupos que queiram e tenham condições de construir um cinema. Oferecer lazer e cultura é também um dos papéis de uma administração.
No programa de governo do atual prefeito de Itajubá foi incorporada a proposta do PT de criar o programa Cinema na Rua. Ainda não aconteceu, por várias dificuldades. Vamos ver se até o fim do mandato, sai do papel e ganha as ruas. Estou na torcida, como membro atuante do MSC (Movimento dos sem Cinema).
É isso!