segunda-feira, 20 de junho de 2011

Na minha cidade tem poetas

Quisera eu escrever como os poetas que, assim como os cegos, podem ver na escuridão. A letra é de uma canção que foi gravada por Milton Nascimento. Dedicada aqui a Gildes Bezerra, pra me redimir por ter perdido dia de homenagem a ele prestada, no último domingo:

GUARDANAPOS DE PAPEL -  Leo Masliah / Carlos Sandroni

Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas
e sempre aparecem quando
Menos aguardados, guardados,
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados
Saem de recônditos lugares, nos ares,
Onde vivem com seus pares,
e convivem com fantasmas
Multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras
E te pedem que não chores
Suas ilusões são repartidas, partidas
entre mortos e feridas,
mas resistem com palavras
Confundidas, fundidas,
Ao seu triste passo lento
Pelas ruas e avenidas
Não desejam glorias nem medalhas,
se contentam
Com migalhas,
De canções e brincadeiras com seus
Versos dispersos,
Obcecados pela busca de tesouros submersos
Fazem quatrocentos mil projetos
que jamais são
Alcançados, cansados, nada disso
Importa enquanto eles escrevem,
o que sabem que não sabem
E o que dizem que não devem
Andam pelas ruas os poetas,
Como se fossem cometas,
Num estranho céu de estrelas idiotas
E outras e outras
Cujo brilho sem barulho
Veste suas caudas tortas
Na minha cidade tem canetas,
Esvaindo-se em milhares,
De palavras retrocedendo-se confusas,
em delgados guardanapos
Feito moscas inconclusas
Andam pelas ruas escrevendo e vendo
Que eles vêem nos vão dizendo,
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram
Olham para o céu esses poetas,
Como se fossem lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e ao mundo inteiro
fossem vendo pra
Depois voltar pro Rio de Janeiro

3 comentários:

  1. Celinha, você sempre está presente. Essa letra é de um compositor uruguaio cujo nome, por deficiência minha, não lembro. Tenho a versão em espanhol e também em português que o Milton gravou. Fico sempre emocionado quando a ouço. Um abraço.

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  2. Célia,
    Em nossa terra tem poetas e muitos, Poetas que falam de muitas coisas. Me despertou a curiosidade ao ver seu nome e sua cidade natal. Meu tio Lair Rennó, professor de Botânica da UFMG, possivelmente teve parentesco com você. Espelhei muita coisa minha em meu tio, falecido a tempos.
    Obrigado.
    João Aguilar
    www.luzdkwanyin.blogspot.com

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  3. João, certamente Lair Rennó teve parentesco sim. Não sei te dizer ao certo, mas segundo contam meu pai e meu tio, trata-se de uma única família, que foi se multiplicando, se distanciando. Este meu blog está bem desatualizado, não tenho tido tempo de escrever aqui, mas ando mais presente no facebook. Apareça!

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