quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Discutindo a Profissão


Uma das exigências básicas para a construção de uma informação jornalística é a de que se deve ouvir, sempre, os dois (ou mais) lados de um fato. Ao ouvir aquele que acusa, é obrigatório ouvir o acusado. Sabemos que isso, no cotidiano do jornalista, nem sempre é possível e por várias razões. Tem os casos daqueles que não querem ser ouvidos, que fogem do microfone, outros que não são encontrados. Não importa o caso, o jornalista tem que procurar, mesmo que receba um não ou que não seja atendido. Tanto que é muito comum – em veículos zelosos pela ética – ouvir, assistir ou ler: “a reportagem não encontrou o fulano, ligou tantas vezes e não foi atendida, ou fulano disse que não quer dar declarações”. Pronto. Mesmo com o prejuízo para a plenitude da informação, o jornalista cumpriu sua parte.
Ao conseguir ouvir os dois lados, o jornal impresso consegue resolver bem a equação, mas nos programas de entrevistas ao vivo a coisa complica, quando um dispara a metralhadora giratória contra alguém e o tal alguém não pode responder na hora. Fica uma defasagem de tempo e audiência entre uma versão e outra. Se quem acusa falou hoje e o acusado vai falar amanhã, no mesmo horário, há uma defasagem de 24 horas e uma variação da audiência que causam prejuízo à informação completa. Quem ouviu só um dia, vai ficar com uma das versões.
Mas como resolver isso? Promover debates entre os dois, para que ambos tenham condições iguais de espaço? Seria o ideal, mas quem trabalha na área sabe que isso nem sempre, ou melhor, quase nunca, é possível. Os entrevistados não se sentem confortáveis em uma acareação ao vivo.
Como resolver então? Confesso que, apesar de ter apresentado um programa de entrevistas ao vivo, no rádio, por quase cinco anos, não achei a resposta ainda sobre o formato ideal para diminuir, ao máximo, o prejuízo do ouvinte e da verdade dos fatos. Hoje, mais madura, mais consciente, percebo que cometi erros graves neste sentido, ouvindo apenas um lado de um fato. Nunca, porém, cometi este erro propositalmente. Nunca me neguei a ouvir ninguém, seja pra acusar ou defender, criticar ou se justificar. Nunca. Mas isso não diminui o erro. É errado sim colocar mais foco em apenas um lado, destacá-lo em detrimento de seu outro lado. Os jornalistas mal intencionados, porém, fazem isso sem se corar: ouvem um lado só, convidam um lado só, usam e abusam do seu espaço na mídia para puxar a sardinha pro lado que mais lhes convêm. Mas não é disso que eu estou falando. Falo daqueles que querem atuar direito, mas encontram o “obstáculo físico” que determina que um lado seja mostrado longe do outro. O ouvinte, muitas vezes, não junta os dois para completar a informação e fica informado de forma capenga.
Então, acho que cheguei numa frase boa: programa de entrevista ao vivo é capenga. Penso assim até que alguém ou eu mesma me convença do contrário depois.




2 comentários:

  1. Vamos juntas, ou juntos, tentar encontrar essa saída.
    Estou cá a pensar com minhas borboletas...
    Talvez criar várias frentes diferentes para tentar esse objetivo.
    Criar um serviço extra de contato durante o programa ao vivo; determinar um espaço, no mesmo programa, para as respostas (não exatamente no momento da entrevista)...
    To aqui pensando.. já volto!

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  2. Pois é, Paulinha, é motivo pra pensar e repensar mesmo. E tem muitas outras coisas ligadas ao exercício dessa profissão para serem repensadas. Obrigada por participar, querida!

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