quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ribeirão Preto proíbe balanga peito!

"Ribeirão Preto proíbe balanga peito", dizia a manchete do jornal Notícias Populares, em uma edição de 1990. Este caso é a síntese da relação conturbada que, muitas vezes, ocorre entre repórter e editor e/ou linha editorial do jornal. Essa matéria foi escrita por mim, quando eu trabalhava na Folha de São Paulo. Os assuntos mais 'apelativos', o Notícias Populares pegava, dava aquela editada básica, pra ficar com a cara da linha editorial do jornal, e publicava sem pudor. O Notícias Populares era do grupo Folha, por isso, havia essa promiscuidade toda.
A matéria, que eu fiz para o Folhão, tratava de uma portaria baixada na extinta Ceterp (Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto) determinando que as telefonistas estavam proibidas de trabalhar sem uso de peças íntimas. Isso foi escrito num cartaz e afixado nas paredes da empresa. Pra quê. Jornalista que fareja uma pauta apetitosa como essa não perdoa.
À época, entrevistei o diretor da empresa, a chefe do departamento, algumas telefonistas. Matéria corretinha, todos os lados ouvidos. O texto foi, inclusive, lido pelo Jô Soares, em seu programa.
Mas, no dia seguinte, o Notícias Populares publicou com aquela apelação toda. Com que cara você olha para seu entrevistado depois que a entrevista dele foi publicada em tom de palhaçada? Pois é: dane-se o repórter. O que vale é vender jornal.
Assim como este, passei pelo mesmo vexame outras vezes. Noutra delas foi uma matéria que fiz na Fazenda Lagoa da Serra, que cuidava de reprodução de animais. Fiz o texto para a Folha sobre a profissão de inseminador. É aquele cara que se encarrega de colocar o sêmen de um animal dentro do corpo da fêmea. Adivinhem como é que o NP publicou: "Punheteiro de boi....." Mais uma vez, minha cara foi no chão. Tive o maior zelo ao conversar com o senhorzinho que tinha essa tarefa nada fácil para que, no dia seguinte, ele estivesse sendo chamado de punheteiro.
E o pior é que a pessoa pensa que foi você quem escreveu assim. Em outro caso, foi na própria Folha mesmo. Fui fazer uma reportagem em Cássia dos Coqueiros, que era a menor cidade da luxuosa região de Ribeirão Preto. A ideia era mostrar como se vivia numa cidade que tinha apenas um orelhão, uma farmácia, um isso e outro aquilo. O meu editor deu um título que me rendeu até moção de repúdio na Câmara Municipal da cidade: Dizia ele na manchete da capa: Cássia dos Coqueiros tem mais gado que gente.
Recebi, de verdade, ameaça de uma mulher que disse que faria justiça com as próprias mãos. Me livrei dessa, graças a Deus.
Nem sempre pacífica, a relação editor x repórter tem que respeitar os limites da ética, do bom senso e do respeito às pessoas. Aliás, a imprensa tem que respeitar seu leitor e seu entrevistado. Diminuem-se as chances de isso dar BO.

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