segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Para as comissões de formatura e quem possa interessar...

Tenho o prazer de publicar o texto enviado pela Hebe Rios, que atualmente, é Chefe de Redação da EPTV, em São Carlos. E eternamente amiga.

Dá uma tese falar no que se transformaram as cerimônias de formaturas de quem termina uma faculdade, seja pública, ou particular.
A festa convida e antecipa em convites o passo a passo do ritual que finaliza a etapa tão sofrida para estudantes e pais. Nada mais justo e tradicional. O problema começa justamente aí, na tradição.
Se convencionou que tudo deve ser cercado de pompa. Os convites são luxuosamente confeccionados, cheios de fotos produzidas e letras à altura do momento tão esperado - textos em prosa e poesia, homenagens e mensagens de agradecimento aos principais atores da nobre conquista, afinal estamos no país em que apenas 5 por cento da população consegue concluir o ensino superior. O cerimonial de cada etapa - missa, culto, colação de grau e baile também não foge a esta lógica. 
Estaria tudo bem se o formalismo, imposto pela tradição, tivesse a cara de quem fica submetido a ele.
Para a geração que rompeu, ou é fruto de quem rompeu mitos, tabus e amarras de comportamento, obedecer a etiquetas é pior do que uma camisa de força.
A formalidade excessiva não combina com o clima de desconcentração que marca a festa. No mesmo espaço da pompa se desenrola uma gritaria sem fim, que não respeita as regras da tão desejada tradição. Digo desejada porque no fundo todos querem essa forma de comemorar, caso contrário não teriam investido em mensalidades para a comissão de formatura. Outros talvez desconheçam uma forma melhor de ritualizar a conquista. O fato é que essa palhaçada dá lucro. As empresas responsáveis pelo "mercado das formaturas" insistem em manter um cerimonial totalmente desconectado do comportamento estudantil, sem o mínimo constrangimento pela incoerência. Ao mesmo tempo em que se desfila em traje, gesto e palavra o rigor cerimonial em uma colação de grau, ou em uma valsa, a platéia e os formandos se manifestam como se estivessem em um campo de futebol. O canudo, símbolo da conquista, mas vazio, já que o diploma é entregue sempre bem depois da formatura, explicita essa absurda falta de sentido.
Para muitos a festa é mesmo o momento de desabafar, de colocar os bichos para fora, literalmente. Um aval para o bixo (calouro) se transformar em bicho (formando). Do ritual do trote ao ritual da formatura a diferença é apenas uma questão de mercado. O que se fatura com o ritual de iniciação, a comemoração espontânea, não se compara ao de conclusão, essa mistura de formalismo arcaico e escracho.
Para mim falta alegria e sobra alegoria. A festa de formatura seria muito melhor se perdesse em pompa e ganhasse em conteúdo e simplicidade. 
Talvez assim esse momento e quem participa dele ganhassem de fato a importância que merecem.



EPTV    
Hebe Rios do Carmo
Chefe de Redação
Emissoras Pioneiras de Televisão
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Um comentário:

  1. Hebe, concordo plenamente com isso. No fim do ano passado, fiquei injuriada justamente com uma festa desta. E o que é pior: formatura de Ensino Médio. A meninada com 16, 17 anos, 'pagando mico' com beca e tudo, como eles demonstravam, tamanho desconforto dentro daquela roupa esquisita. Tanta formalidade, nenhuma espontaneidade, professor fazendo discurso para falar do ano que passou. Isso tudo devia ser uma grande festança, sem ceriômia e com a cara da 'galera'. Aliás, cerimoniais dão uma bela análise comportamental. Nessas solenidades, acontece cada uma!

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