sábado, 12 de fevereiro de 2011

O que me faz companhia

Poesia me faz companhia. Música também. Mas gosto de gente perto para dividir tudo isso. Um bom vinho, um tango de Piazzola ou Chico na vitrola. Livros perto da mão, cheirinho de sopa, de cafezinho, de cera no chão. Se tiver uma chuvinha na janela então.... Eta vida besta!!!!
Pra este sábado à tarde, com cara de que vai chover de mansinho, aqui vai uma poesia de um autor moçambicano que me foi apresentado (não pessoalmente) dia desses: É Mia Couto, que escreve assim:

Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

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